O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feira, 10, que não teme um repasse de preços ao consumidor devido ao aumento de custos que as empresas afirmam que a Medida Provisória do crédito do PIS/Cofins irá gerar. Na opinião de Haddad, isso não acontecerá porque o retorno dos créditos continua garantido. Ele disse ainda que a maior preocupação que ouviu dos empresários é em relação aos prazos e que, em torno disso, o Tesouro está disposto a alinhar o assunto com o que foi feito na reforma tributária.
Haddad citou a reforma porque, segundo ele, para a transição para o novo sistema, a volta dos créditos de PIS/Cofins sobre as exportações já estaria pacificada. Com isso, o Tesouro buscará aderir ao mesmo princípio da MP, explicou.
“Com a reforma tributária isso tem o mesmo problema, e foi resolvido na negociação de como operar a devolução do crédito à exportação do PIS/Cofins. Isso foi pacificado, pelo que entendi, está muito bem encaminhado. Então vamos tentar aderir a essa MP que foi, de certa forma, pactuada no Congresso Nacional sobre esse mesmo tema na regulamentação da emenda constitucional”, disse aos jornalistas.
Também tinha sido questionado especificamente sobre a transferência de custos para o preço dos combustíveis, o que também disse não ver acontecer.
Haddad explicou novamente que a Receita Federal identificou um problema no sistema de compensação e que quer dar transparência ao assunto, bem como avançar com um novo sistema de devolução de PIS/Cofins nas exportações.
“A Receita identificou um problema e o que ela quer é um novo sistema de devolução das exportações de PIS/Cofins e um novo sistema de compensação. Se ajustarmos isso, chegaremos ao problema concreto”, disse o ministro, segundo quem disseram aos empresários que a categoria também precisa ajudar o governo nesse assunto, já que o uso indevido de créditos prejudica os bons pagadores. “Evidentemente é algo que acaba prejudicando o país. Não queremos nada mais do que dar transparência a isso”, respondeu.
Disse ainda que o sistema operacional que provavelmente entrará no ar na próxima segunda-feira, envolvendo todos os benefícios fiscais, dará mais transparência aos benefícios, comparando a ferramenta a um “placar em tempo real”. “É para evitar que empresas de boa-fé sejam prejudicadas, e empresas de má-fé sejam favorecidas, infelizmente temos as duas condições. A maioria das empresas segue as regras, tem que ter passe livre para recuperar o crédito, mas o que elas estão usando erroneamente um instrumento para favorecer a indústria, a agricultura, se permitirmos, prejudicaremos todo o sistema”, comentou.
Reação e dependência do humor do Congresso
O ministro da Fazenda comparou a reação provocada pela Medida Provisória do PIS/Cofins ao que aconteceu quando o governo publicou a MP sobre subsídios do ICMS, que, apesar da forte rejeição inicial, acabou aprovada pelo Congresso.
Por outro lado, Haddad lembrou que, desta vez, o Tesouro não tem tanto tempo disponível porque o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que a compensação pela isenção da folha de pagamento seja resolvida no prazo de 60 dias.
O ministro reconheceu que a equipe econômica está sempre à mercê dos ânimos do Congresso, mas argumentou que a agenda das Finanças é apartidária e avaliou que o departamento tem “crédito” junto ao Congresso. Ele não descartou, porém, a construção de alternativas em diálogo com o Legislativo.
“Se depender do Tesouro, vai acontecer um processo parecido com a MP 1.185, a MP inicialmente gerou estresse no Congresso, demorou um pouco para o Congresso decidir considerar a MP, ela estava prestes a cair quando conseguimos mostrar que nós teve um ponto que precisava ser corrigido. Não temos esse tempo agora porque tem uma decisão do STF que impõe indenização em 60 dias, temos um prazo bem menor, mas isso pode ser favorável, se trabalharmos intensamente. a questão, chegaremos à correção que desejamos, daquilo que nos parece um desvio do propósito do que está em vigor”, afirmou.
Questionado se o governo poderia retirar a MP para substituí-la por um projeto de urgência, Haddad respondeu que primeiro a medida precisa ser explicada e esclarecida.
“Sei que o clima político melhora, piora, estamos sempre à mercê desse tipo de clima, mas o nosso papel é construir uma agenda apartidária e corrigir as contas públicas, lembrando que o problema não foi criado pelo governo, é uma compensação por uma decisão tomada pelo Congresso Nacional sem a participação do Executivo… e não excluo a possibilidade de que em diálogo com o Congresso, em função da decisão do STF, possamos construir alternativas (…) Primeiramente tudo o que precisamos para explicar a MP, qual é a sua finalidade, 1185 também gerou dúvida, incerteza, ‘a empresa vai fechar’, não foi nada disso, então quando apresentamos os dados, os próprios parlamentares foram participantes da construção da solução”, respondeu Haddad.
O ministro defendeu ainda que o Tesouro nunca quebrou acordos ou deixou de negociar com o Congresso e que, por isso, espera boa vontade do Parlamento no processamento da questão. “Não creio que seja diferente se houver boa vontade, acredito que o Tesouro tem crédito junto ao Congresso, porque nunca quebrou um acordo, nunca induzimos… Em todos os momentos negociamos à luz de dia, sem nenhum tipo de preocupação em levar os dados corretos para o Congresso analisar Então vamos dar crédito à Receita Federal, explicar o que está acontecendo, e os próprios parlamentares serão os arquitetos de uma solução política”, disse Haddad, avaliando que o A MP não demorará muito para ser avaliada.
devedor persistente
O ministro afirmou ainda que espera que o Congresso avance com projetos que prevejam regras mais duras para os devedores contumaz, após referir que esta exigência está a ser feita pelo próprio empresariado. “Quando o empresário disse ontem ‘Ah, por que o devedor contumaz não vota’, o devedor contumaz está no Senado há três anos, mandamos um projeto sobre isso no final do ano”, disse.
Haddad lembrou que o Tesouro enviou no final do ano passado ao Congresso um projeto de lei sobre o tema e que o país é um dos poucos que não possui uma regra rígida para lidar com esse tipo de devedor.
“O Brasil é um dos poucos países que não tem uma regra rígida. Agora, os próprios empresários estão pedindo uma regra, que é algo que a Receita Federal vem exigindo há décadas. vai conseguir fazer prosperar um dos PLs, ou a Câmara ou o Senado”, finalizou o ministro.
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